[19/11/2025]
No último dia 14 de novembro, o Centro Latino-Americano de Física (CLAF) promoveu encontro para discutir oportunidades de cooperação na área de física de altas energias entre países da região e o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN).
O simpósio – realizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), onde o CLAF tem sua sede desde sua fundação, em 1962 – contou com a participação de cerca de 25 pesquisadores da América Latina e Europa, ao longo de um dia de palestras, painéis e discussões.
A apresentação do encontro ‘CLAF Symposium – Opportunities for Latin-American Cooperation in High-Energy Physics with CERN’ foi feita pelo tecnólogo Márcio Pontes de Albuquerque, diretor do CBPF, que enfatizou os mais de 40 anos de interação entre o Brasil e o laboratório europeu.
Em seguida, Ulisses Barres de Almeida, pesquisador do CBPF e diretor do CLAF, fez a abertura dos trabalhos, ressaltando a importância do evento para a comunidade de física de altas energias na região. “Espero que este evento marque o primeiro passo de uma longa série de atividades entre o CLAF, o CERN e as nossas comunidades, em benefício do desenvolvimento da física de altas energias em todo o continente latino-americano”, disse.
Na parte da manhã, a palestra inicial apresentou visão geral da história da física de altas energias na América Latina. O evento prosseguiu com a palestra de Salvatore Mele, assessor sênior de relações internacionais do CERN, e de Mário Pimenta (Portugal), que falou das lições que a física de seu país extraiu como um dos 25 Estados Membros do CERN.
Seguiram-se dois painéis sobre a participação do Brasil e Chile no CERN. Em um deles, Ignacio Bediaga (Brasil) falou sobre os trabalhos da Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae), que fornece apoio para a colaboração brasileira com o laboratório europeu.
Carlos Matsumoto, chefe da assessoria especial de assuntos internacionais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Brasil), falou sobre o acordo Brasil-CERN em nome do físico Ricardo Galvão, atual deputado federal e ex-presidente (2023-2025) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Ao todo, a América Latina tem nove países com usuários no CERN: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Mexico e Peru. Mas, até este momento, na região, só o Brasil tem o estatuto de ‘Estado Membro Associado’, acordo finalizado ano passado entre o governo e o laboratório europeu.

Memorando
Um dos pontos altos do simpósio – encerrando os trabalhos matutinos do encontro – foi a assinatura de memorando de entendimento entre o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Brasil, e o CERN, para paticipação no estudo para o FCC (sigla, em inglês, para Futuro Colisor Circular), acelerador que está sendo planejado pelo laboratório europeu.
O memorando foi assinado entre Michael Benedik (Áustria), atual líder do projeto de estudos sobre o FCC, e Antônio José Roque, diretor do CNPEM. “Há cinco anos, eu diria que essa iniciativa não passaria de um sonho”, enfatizou Salavatore Mele, que estava presente na cerimônia. Roque, por sua vez, agradeceu a seu colega do CERN por “tornar isso realidade”.
A assinatura do memorando contou com a participação por videoconferência do físico Michael Benedikt. “Estamos muito felizes com essa iniciativa”, disse.
A colaboração CNPEM-CERN inclui participação ativa da indústria brasileira na construção do FCC. O relatório sobre a viabilidade técnica e financeira desse acelerador – que poderá substituir o atual LHC (sigla, em inglês, para Grande Colisor de Hádrons) – acaba de ser publicado pelo laboratório europeu, com sede em Genebra (Suíça).

Sessões científicas
Na parte da tarde, três painéis – reunindo quatro pesquisadores brasileiros, dois chilenos e dois portugueses – abordaram a parte científica da participação de Brasil, Chile e Portugal nos experimentos do CERN, bem como a deste último país na pesquisa de neutrinos no DUNE (sigla, em inglês, para Experimento de Neutrinos de Subsolo Profundo), nos EUA, do qual o Brasil também participa.
Em seguida, vieram duas palestras sobre temas mais gerais. Cristiane Jahnke (Brasil) falou sobre resultado de consulta de opinião entre físicos latino-americanos sobre estratégias para a próxima geração de aceleradores. Segundo a palestrante, cerca de 85% dos físicos brasileiros consultados apoiam a construção do FCC.
Rogério Rosenfeld (Brasil) apresentou detalhes sobre a LAA-HECAP (sigla, em inglês, para Associação Latino-Americana para a Física de Altas Energias, Cosmologia e Astropartículas), criada em 2021, para promover, planejar e ampliar a pesquisa e colaboração internacional nessas áreas na região.
Por volta das 18h, Almeida, diretor do CLAF, encerrou o simpósio com a proposição de criação, entre o CLAF e CERN, de um ‘Grupo Latino-Americano de Cooperação em Física de Altas Energias’, para promover de modo mais eficiente a integração regional e internacional nessa área. “Por mais que essa ideia possa parecer ambiciosa – e, de fato, ela o é –, acredito que ela seja precisamente baseada na ambição com a qual o CLAF foi criado”.
O simpósio foi organizado em coordenação com a conferência internacional ‘Advances in QCD at the LHC and the EIC’, realizada, também no Rio de Janeiro (RJ), entre 9 e 15 de novembro deste ano.
Mais informações:
Sobre o simpósio (com PDFs das apresentações): https://claffisica.org.br/page/claf-symposium
Sobre o CLAF: https://claffisica.org.br/