Amélia Hamburger morre aos 78 anos

 Pioneira em física nuclear e pesquisadora em história e epistemologia da física, Amélia foi herdeira direta da tradição acadêmica da física dos anos 1950.

Professora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) por mais de quatro décadas, Amélia Império Hamburger faleceu na sexta-feira (1), em São Paulo, aos 78 anos de idade. A pesquisadora em história e epistemologia da física era casada com o também físico Ernst Hamburger e tinha cinco filhos.

"Amélia era uma colega de interesses amplos, espírito crítico e muita generosidade, com influência marcante sobre todo o seu ambiente de trabalho. Ela foi herdeira direta do período glorioso da construção da física contemporânea na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP", disse o professor Sílvio Salinas, do Instituto de Física da USP.

Com uma carreira nascida da tradição acadêmica da física dos anos 1950, Amélia teve um papel essencial, na década de 1960, na fundação da Sociedade Brasileira de Física (SBF), ajudando a redigir os estatutos da instituição e compondo a diretoria e o conselho da sociedade diversas vezes. "Amélia era particularmente preocupada com o reforço das instituições acadêmicas e políticas no Brasil e com todas as questões referentes ao ensino", pontua Salinas.

Amélia se graduou em Física, em 1954, no Instituto de Física da USP, fez mestrado na Universidade de Pittsburgh, em 1960, e concluiu o pós-doutorado na Carnegie Mellon University em 1967. Suas áreas de pesquisa se concentravam principalmente em Física Nuclear e Mecânica Estatística, tendo como principais linhas de pesquisa a Física Nuclear e do Estado Sólido, História da Física no Brasil, Epistemologia da Física e Aprendizagem e Psicologia do Desenvolvimento Humano, além de ter atuado com política educacional e ciência nas relações Brasil-França.

"Seu trabalho em epistemologia e história da ciência foi motivado por interesses no ensino de física e na preservação da memória da ciência no país. Ela publicou artigos e orientou diversas dissertações sobre questões epistemológicas, principalmente sobre tópicos de mecânica clássica e termodinâmica, que certamente merecem atenção", explica o professor.

Amélia também participou, segundo Salinas, de um projeto importante de recuperação da história da física contemporânea em São Paulo, com vários subprodutos, incluindo um texto recente contemplado com o prêmio Jabuti, contendo a primeira parte de um projeto de edição do livro Obra científica de Mario Schönberg, que reúne 50 artigos científicos do período entre 1936 e 1948. "Textos dessa natureza são um trabalho pioneiro, de grande significado para o estabelecimento de uma cultura científica no país", aponta Salinas.

Ela organizou o livro Fapesp 40 anos - Abrindo Fronteiras e foi aluna de Marcello Damy, pioneiro na física experimental do Brasil e responsável pela instalação do primeiro reator nuclear no País, em 1956, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Teve ainda experiências pessoais com figuras importantes nos primórdios das pesquisas em Física Moderna no Brasil, além do brasileiro Mário Schönberg (1914 - 1990), como o italiano Giuseppe Occhialini (1907-1993) e o norte-americano David Bohm (1917-1992).

(Assessoria de Comunicação da SBF)